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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O que é catacrese?

Provavelmente, você já aprendeu na escola que Catacrese é uma figura de linguagem. E aprendeu certo: é um recurso de estilo em que ampliamos o sentido de uma palavra em um processo de analogia. Em outras palavras: catacrese é o uso de uma expressão com significado além daquilo que em geral costuma significar. Veja o exemplo retirado da obra D. Casmurro, de Machado de Assis:

"Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algumas linhas e mostrei-as em casa a José Dias, que as achou realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel, recitou lentamente o discurso, pesando as palavras, e confirmou a primeira opinião; no Flamengo espalhou a notícia."

O verbo espalhar, em seu sentido estrito, quer dizer "separar a palha de algo (de um cereal, por exemplo)". É o mesmo que despalhar. Porém, no trecho acima, Machado de Assis usou o verbo espalhar (por analogia) com o sentido de divulgar a notícia, como se ela fosse sendo lançada ao vento tal qual a palha que se retira de algum vegetal, dispersando-se.

Nesse sentido, a catacrese é um processo metafórico. De fato, o uso desgastado de algumas metáforas acabaram configurando catacreses: pé da mesa, bico do bule, braço do sofá, dente de alho, entre tantos outros.

É provável que essas utilizações sejam originadas pela falta de uma palavra específica para expressar aquilo que se pretendia dizer. É por isso que se considera catacrese um uso impróprio ou até abusivo de uma palavra. Aliás, em grego (Katákhresis) significa exatamente mau uso.

Em todo caso, a catacrese é um uso criativo e adaptativo a que os falantes da língua recorrem, segundo convém, para suprir uma lacuna no sistema linguístico que nem sempre disponibiliza todas as expressões necessárias para designar as coisas.



quinta-feira, 28 de julho de 2011

Eufemismo e Disfemismo

Eufemismo é uma figura de linguagem que consiste na atenuação (suavização) de uma informação, por considerá-la demasiadamente imprópria para ser escancarada, seja por que motivo for (superstição, pudor, ética...). Leia o exemplo de eufemismo que retirei da Carta que Pêro Vaz de Caminha escreveu quando os portugueses chegaram ao Brasil, considerada a certidão de nascimento da Literatura Brasileira:

"(...) Ali andavam entre eles três ou quatro moças bem novinhas e gentis, com cabelo mui pretos e compridos pelas costas e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha."

No excerto, ocorre duas vezes a palavra vergonha: na primeira vez em que é usada ("suas vergonhas"), essa palavra está em sentido conotativo, figurado: significa órgãos genitais, que foram eufemisticamente renomeados de "vergonhas". Já na segunda aparição da palavra vergonha ("não tínhamos nenhuma vergonha"), o vocábulo está em seu sentido literal, denotativo, significando que eles não ficaram encabulados com o que viram.

O contrário de eufemismo é o disfemismo, ou seja, a utilização de palavras grosseiras em vez de termos mais comuns para se referir a algo. Para exemplificar, considere as frases seguintes:

1- Maria faleceu.

2- Maria descansou desta vida.

3- Maria "bateu as botas".

Na frase 1, ocorre o uso denotativo da linguagem. Nas frases 2 e 3, ocorrem conotações. A diferença é que, em 2, há um eufemismo, enquanto que em 3 há um disfemismo.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Redondilha Maior e Redondilha Menor

Chamamos de Redondilha Maior o verso com sete sílabas poéticas, e de Redondilha Menor os versos de cinco sílabas. As redondilhas foram muito usadas no Trovadorismo e no Humanismo em Portugal. As Cantigas Medievais e também o teatro vicentino se fizeram com amplo uso desse tipo de verso, que só foi preterido (pelo menos em parte) quando Sá de Miranda introduz em Portugal a Medida Nova, ou seja, os versos decassílabos em sonetos. Abaixo, deixei para você um exemplo de poema (três estrofes apenas de  Labirinto) em redondilha escrito por Camões:


Cor/re/ sem/ ve/la e/ sem/ le/me
o tempo desordenado,
dum grande vento levado;
o que perigo não teme
é de pouco exprimentado.
As rédeas trazem na mão
os que rédeas não tiveram:
vendo quando mal fizeram
a cobiça e ambição
disfarçados se acolheram.

A nau que se vai perder
destrue mil esperanças;
vejo o mau que vem a ter;
vejo perigos correr
quem não cuida que há mudanças.
Os que nunca sem sela andaram
na sela postos se vêm:
de fazer mal não deixaram;
de demónio hábito têm
os que o justo profanaram.

Que poderá vir a ser
o mal nunca refreado?
Anda, por certo, enganado
aquele que quer valer,
levando o caminho errado.
É para os bons confusão
ver que os maus prevaleceram;
posto que se detiveram
com esta simulação,
sempre castigos tiveram. (...)




terça-feira, 19 de julho de 2011

Soneto

Soneto é um tipo de poema que tem forma fixa: dois quartetos e dois tercetos, ou seja, duas estrofes de quatro versos e outras duas de três versos. A Medida Nova (decassílabos em sonetos) foi introduzida em Portugal por Sá de Miranda e substituiu o gosto artístico da época, que era o uso das redondilhas (versos de cinco ou sete sílabas poéticas), chamadas de Medida velha. Leia este soneto de Camões:


Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.


Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.


Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria




quarta-feira, 13 de julho de 2011

Conotação e Denotação


Liguagem denotativa é aquela em que se usam as palavras em seu sentido literal ou mais comum. Para exemplificar, leia o texto abaixo de Carlos Drummond de Andrade:
"A História de Chapeuzinho Vermelho sempre me pareceu mal contada, e não há  esperança de se conhecer exactamente o que se passou entre ela, a avozinha e o lobo.
Começa que Chapeuzinho jamais chegara depois do lobo, à choupana da avozinha. Ela vencera na escola o campeonato infantil de corrida a pé, e normalmente não andava a passo, mas com ligeireza de lebre. Por sua vez, o lobo se queixava de dores reumáticas, e foi isto, justamente, que fez Chapeuzinho condoer-se dele.
Estes são pormenores da história, ouvida por Tia Nicota, no começo do século, em Macaé. Segundo ali se dizia, Chapeuzinho e o lobo fizeram boa liga e resolveram casar-se. Ela estava persuadida de que o lobo era um príncipe encantado, e que o casamento o faria voltar ao estado natural. Seriam felizes, teriam gêmeos. A avozinha opôs-se ao enlace, e houve na choupana uma cena desagradável entre os três. O lobo não era absolutamente príncipe, e Chapeuzinho, unindo-se a ele, transformou-se em loba perfeita, que há tempos ainda uivava à noite, nas cercanias de Macaé".
 Aqui, a correlação lobo uivava está sendo usada em seu sentido literal, pois uivar é característico de lobos. Assim, dizemos que o uso do verbo uivar, nesse contexto, é denotativo. Já a linguagem conotativa é aquela em que se emprega um termo de forma figurada. Compare a passagem acima de Drummond com o seguinte excerto de Érico Veríssimo:
          
"Era uma melodia lenta e meio fúnebre. O agudo do som do instrumento penetrou Ana Terra como uma agulha, e ela se sentiu ferida, trespassada. Mas notas graves começaram a sair da flauta e aos poucos Ana foi percebendo a linha da melodia... Reagiu por alguns segundos, procurando não gostar dela, mas lentamente foi se entregando e deixando embalar. Sentiu então uma tristeza enorme, um desejo amolecido de chorar. (...)
De repente Ana Terra descobriu que aquela música estava exprimindo a tristeza que lhe vinha nos dias de inverno quando o vento assobiava e as árvores gemiam - nos dias de céu escuro em que, olhando a soledade dos campos, ela procurava dizer à mãe o que sentia no peito, mas não encontrava palavras para tanto. Agora a flauta do índio estava falando por ela..."   

Todos hão de concordar com o fato de que vento não assobia nem árvore geme. Esse recurso usado pelo grande escritor Érico Veríssimo se chama prosopopeia ou personificação, uma figura de linguagem que consistem em, figurativamente, atribuir características humanas a seres inanimados. Trata-se de um claro exemplo de conotação.



terça-feira, 28 de junho de 2011

O que é Fábula?

Fábula é uma narrativa alegórica, geralmente curta, de origem oriental, em que se usam animais antropomorfizados para protagonizar um enredo de fundo moral.

Na Antiguidade Clássica, Esopo e Fedro fizeram nome nesse gênero. Mais modernamente, La Fontaine é o grande fabulista. No Brasil, Monteiro Lobato destaca-se no gênero.

As fábulas têm estrutura muito simples, e vários níveis de interpretação. Uma criança apreende com facilidade seu conteúdo mais concreto, e se diverte com ele. A mesma fábula, para um adulto, pode conter conceitos mais profundos quando se recuperam adequadamente as relações abstratas sugeridas entre os temas e as figuras da narrativa.

Veja como a Historiadora Marta Iansen usou uma conhecida fábula de Esopo para tecer uma reflexão historicamente pertinente: "O Que Esopo Tinha a Dizer Sobre as Relações Entre Desiguais".

Atualíssima a análise, não acharam? Literatura é isso: conexões.





terça-feira, 21 de junho de 2011

O que é Onomatopeia?

Onomatopeia é um processo linguístico que consiste em uma tentativa de reproduzir na linguagem humana sons provenientes do ambiente ao redor. Tente localizar uma onomatopeia no excerto abaixo, extraído de Dom Casmurro (Machado de Assis):


"Com o tempo veio um fenômeno interessante. Pádua começou a falar da administração interina, não somente sem as saudades dos honorários, nem o vexame da perda, mas até com desvanecimento e orgulho. A administração ficou sendo a hégira, donde ele contava para diante e para trás.
--No tempo em que eu era administrador...
Ou então:
--Ah! sim, lembra-me, foi antes da minha administração, ou um dous meses antes... Ora espere; a minha administração começou. É isto, mês e meio antes; foi mês e meio antes, não foi mais".

Se você indicou a expressão Ah como onomatopaica, você acertou. Essa intejeição é originada na tentativa de imitar um som que emitimos para expressar espanto ou admiração, ou ainda alegria e contentamento, ou outras emoções que o contexto define bem.

As onomatopeias, de forma geral, são compreendidas universalmente porque reproduzem e imitam ruídos, sons relativos à natureza, à expressão humana,  ao canto de aves e grunhidos de animais. Elas são, ao mesmo tempo, uma figura de linguagem e um processo de formação de palavras novas. Assim, vocáblulos como bentevi, xixi e vuvuzela têm um toque onomatopaico inegável!







segunda-feira, 30 de maio de 2011

Inauguração

Inaugurar significa colocar em funcionamento, dar início. É isto que estamos fazendo hoje: inaugurando um Blog cuja finalidade é oferecer dicas e soluções sobre as questões da linguagem em uma perspectiva moderna e funcional.

Este Blog, então, como seu título sugere, é uma espécie de local em que você, leitor, poderá se consultar, através das postagens periódicas, sobre suas angústias em relação à Gramática do Português, em relação a questões de Redação, de Literatura e também de Linguística.

Você poderá, via e-mail (consultoriodasletras@hotmail.com) deixar uma dúvida, uma pergunta, enfim, uma angústia sobre os assuntos tratados neste Blog. No momento oportuno, poderemos deixar uma postagem respondendo a algumas dessas questões consideradas pertinentes para a ocasião.

Postas, então, as bases e também os objetivos do Consultório das Letras, vamos em frente lembrando que, como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade:


"Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
[...]
Palavra,palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate."